MV Bill errou o foco
terça-feira, março 21, 2006
O documentário do MV Bill sobre a vida de crianças no tráfico de drogas, e quantos outros mais fizerem, são inúteis se não tocarem o dedo na ferida. As crianças no tráfico, matando e morrendo, a classe mérdia assustada, querendo vingança detrás de seus bunkers móveis e imóveis, a polícia corrupta, tudo tem uma causa única: a legislação draconiana e anacrônica em relação às drogas. Droga não é uma questão de repressão nem de polícia, é de educação e de saúde pública. Enquanto tentarem atacar o problema na marra, só vão gerar mais e mais cadáveres, cada vez mais jovens, cada vez mais ignorantes do que os matou. Por essas e outras acho que o documentário falhou em atacar o problema de frente. MV Bill disse que não glamourizou o problema, pois eu acho que o fez sem saber, quando abdicou em discuti-lo pelas premissas corretas. O que fez foi apenas jogar um monte de imagens e frases e cenas chocantes para um bando de gente que quer mais que esse pessoal do andar de baixo se f... no caso, o público do Fantástico.
E achar que o problema terá uma discussão adequada pela TV - ainda mais naquela que aposta todas suas fichas no telespectador 'Homer' - é no mínimo inocente demais. MV Bill detonou o filme Cidade de Deus porque disse que mostrava só as mazelas, nada mais. Pois acho que o filme conseguiu tocar no mesmo problema de uma forma muito mais eficaz, bonita e inteligente. O documentário abusa de imagens fortes para falar o óbvio e usa como propagador da mensagem um veículo que fala com homers, pouco dispostos a se aprofundar em qualquer tema; o filme trabalhou com a realidade para fazer arte. E, como sabemos, sem arte, somos ocos, vazios de sentido.
A discussão é mais ampla e exige medidas ousadas, não às eternas ameaças, como fez o Jornal Nacional de segunda-feira, que logo depois de longa matéria de abertura sobre o documentário, anexou uma campanha contra drogas, voltando ao lenga-lenga de que quem consome financia o tráfico. Sim sim, e daí? Todos os consumidores do mundo, dos hard-users (minoria, aqueles que causam problemas, roubam, matam, destroem lares) aos usuários recreativos (imensa maioria, trabalhadores, cumpridores de seus deveres, bons pais, profissionais reconhecidos em suas respectivas áreas) vão parar amanhã por causa disso? Será que alguém realmente acredita nisso? Esse tipo de campanha é tão idiota como aquela que aterrorizava os doentes de Aids, dizendo que Aids mata. Ora, realmente era tudo que o cara precisava, não, pra viver melhor, saber que vai morrer... Ó estupidez...
Perdi um irmão com 17 anos, morto a tiros pela polícia carioca. Seu crime? Estava no morro, no lugar errado na hora errada. Se consumia, se tinha amigos no tráfico, se frequentava a boca, não vem ao caso. Morreu como um bicho, foi 'zoado' pelos meganhas, que deram um tiro no seu peito, bicaram sua boca até abrir um belo corte, o mataram na hora, e mesmo assim levaram para o hospital, o Miguel Couto, com a clássica justificativa de que ainda respirava. Estava morto, mas não podia ficar no local, porque a cena do crime sempre tem que ser desfeita. É sempre a mesma estratégia, ninguém questiona, continuam fazendo, levando os defuntos para os hospitais para disfarçar o assassinato. Colocaram umas trouxinhas de maconha no bolso de sua bermuda, um 38 enferrujado com numeração raspada ao seu lado e roubaram seu tenis importado que meu pai dera a ele dias antes. Como ele, morrem aos milhares todos os dias, no Brasil e no mundo, pelos mesmos motivos. Tudo porque há uma questão moral que muitos ainda se recusam a discutir: o consumo de drogas legais ou ilegais sempre existiu, sempre existirá.
# Jorge Cordeiro @ 14:49
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