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                Como é bom ler 2 
                       segunda-feira, agosto 15, 2005 
            
             
                     Agora quem escreve é João Sayad:
 
 Mentiras
  Cinco horas da manhã, seu Abdo, 75 anos, abriu a porta com cuidado para não fazer barulho e não acordar a mulher. Ao entrar, os aromas noturnos do quarto invadiram suas narinas. Seus ossos cansados aguardavam o aconchego dos lençóis depois de mais uma noite divertida perambulando pelo Rio. Ia pendurar o chapéu no cabide, quando dona Amália se virou na cama e resmungou: "Ô velho, não tem vergonha de chegar em casa a essas horas?" "Não estou chegando, estou saindo." Pôs o chapéu na cabeça e apesar de exausto saiu novamente para a rua.
  Mesmo que não exista a verdade, existem vários tipos de mentira. Mentira é a expressão distorcida da convicção de verdade de quem fala.
  A mentira do seu Abdo foi um tributo de respeito a dona Amália.
  O médico mente por compaixão. Os contratos de seguros têm cláusulas com letras miúdas que revelam as mentiras comerciais das letras graúdas para quem ler com cuidado. O ciúme transforma a verdade em uma infinidade de mentiras. A regra de ouro do adúltero é negar, até o fim, o adultério. Papai Noel e cegonhas que trazem nenéns nascidos em repolhos são mentiras graciosas que incentivam a imaginação das crianças. Nascem e morrem naturalmente, sem escândalo. São lembradas com carinho pelas crianças quando emancipadas e adultas.
  Os edifícios têm salas, as casas têm quartos. Nos escritórios, há conversas que não podem ser ouvidas; em casa, há coisas que não podem ser vistas. O que se diz para o adulto não se diz para a criança. O que o médico sabe o paciente não pode saber. O convívio humano só é pacífico se for segregado por paredes, interrompido por viagens. A política negocia conflitos insolúveis que exigem discursos ambíguos e conversas particulares.
  Os depoentes das diversas CPIs mostraram a existência de caixa dois, sonegação fiscal e evasão de divisas. Jornalistas escrevem indignados, alguns deputados falam em impeachment e o país mergulha mais fundo na crise política.
  Evasão de divisas não é crime no Brasil há pelo menos dez anos. A sonegação fiscal não deveria surpreender nem empresários, nem auditores fiscais, nem publicitários, nem jornalistas, nem parlamentares. Por que carregar grandes quantidades de dinheiro na cueca ou em malas se não houvesse sonegação fiscal e caixa dois?
  Quem não sabia? Operários, funcionários públicos, costureiras, marceneiros, barbeiros, taxistas, a maior parte dos brasileiros. A elite empresarial, sindical e intelectual sempre soube, mesmo que não quisesse saber.
  O escândalo não é a descoberta da mentira. Escândalo é a revelação oficial transmitida pela televisão para um Brasil estupefato de um segredo que não podia ser revelado.
  O mistério é saber por que foi revelado.
  A indignação da elite é mentirosa. O escândalo, artificial.
  A indignação dos brasileiros simples é perigosa. Instituições políticas e democracia dependem de mentiras.
  Viveremos muitas semanas ansiosos por saber como a revelação da verdade produzirá outros arranjos políticos, outra democracia e outras mentiras.  
             
                     # Jorge Cordeiro @ 11:42 
            
            
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