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                Chavez no Roda Viva 
                       quarta-feira, outubro 05, 2005 
            
             
                     Perdi a entrevista que o presidente venezuelano Hugo Chávez deu no Roda Viva da TV Cultura nesta segunda-feira. Saco, tinha me programado pra escrever um texto sobre o embate do cara com os jornalistas brasileiros. Ia ser um massacre bolivariano, tinha certeza. Pra minha sorte, meu camarada Fábio José de Mello assistiu ao programa e se prontificou a relatar o que rolou no encontro. Valeu, meu velho, espero que seja a primeira de muitas contribuições pr'O Escriba! Segue o texto: 
 
 "De terno azul-marinho, camisa branca e gravata vermelha, Hugo Chávez enfrentou com serenidade e firmeza a bancada de oito jornalistas que o entrevistaram no Roda Viva. Quem esperava encontrar um militar populista, pouco articulado e fanfarrão, decepcionou-se. Chávez provou ser um profundo conhecedor da geopolítica da América latina e fez valer a sua formação de mestre em ciência política, rebatendo cada questão com argumentos claros e objetivos – mesmo diante de perguntas capciosas, que buscavam subtrair do entrevistado críticas mais contundentes ao governo Lula e mostrá-lo como o "Fidel Castro do século 21". Minha impressão é que apenas Fernando Morais e Bob Fernandes estavam  preparados para o debate, municiados de dados concretos. Os demais preocuparam-se, em alguns momentos, em desqualificar o presidente venezuelano, com a arrogância costumeira. Não tiveram sucesso.
  Participam da bancada o jornalista e escritor Fernando Morais; Eliane Cantanhêde (colunista do jornal "Folha de S.Paulo"); Luiz Carlos Azedo (repórter do jornal "Correio Brasiliense"); Vicente Adorno (editor de Internacional do "Jornal da Cultura"); Ricardo Amaral (repórter da Agência Reuters); o jornalista e escritor Bob Fernandes e Lourival Sant'Anna (repórter especial do jornal "O Estado de S.Paulo").
  De início, o mediador Paulo Markun questionou Chávez por retomar uma grande propriedade rural (AgroFlora) - que pertencia à empresa britânica Vestey, desde o século 19 –, loteá-la e distribui-la a trabalhadores sem-terra. O presidente então sacou do bolso do paletó um pequeno livreto e, diante de todos, mostrou a Constituição venezuelana – que permite, por parte do governo, a retomada de terras improdutivas. "A propriedade privada não é sagrada, já dizia o papa João Paulo 2°. Mesmo assim, os que se sentem prejudicados podem recorrer à justiça. A Venezuela é uma democracia".
  A colunista Eliana Cantanhêde quis saber qual a diferença, nos dias de hoje, entre "direita e esquerda". Chávez citou o lema da Revolução Francesa como exemplo a ser seguido pelos esquerdistas e fez duras críticas ao Consenso de Washington, que aprofundou ainda mais o abismo social que assola a América latina. Segundo ele, o neoliberalismo – modelo defendido "pela direita" - vem sendo abandonado, em maior ou menor grau, por países que elegeram presidentes mais afinados com as demandas sociais. Cantanhêde tentou, ainda, provocar Chávez, perguntando o que ele achava do governo Lula ter uma suposta "aprovação das elites". Ele recusou-se a responder a pergunta, por questões diplomáticas, e reafirmou a confiança depositada no presidente e no povo brasileiros. Por fim, quis saber se o entrevistado considera-se "Deus ou diabo". "Os dois", foi a resposta.
  No momento em que escrevo esse texto, confesso que recorro apenas ao reservatório da memória. Posso, portanto, não citar passagens importantes. Mas, vi em Chávez um político determinado em levar até o fim o projeto de "revolução bolivariana", mesmo que para isso seja capaz de distribuir cem mil fuzis de última geração aos venezuelanos, para que estes defendam a soberania nacional de uma possível invasão ianque. "Temos esse direito", justifica. Numa primeira leitura, pode parecer apenas bravata. Porém, em caso de agressão externa, como vai se comportar um povo que, pela primeira vez na sua história, recebe investimentos importantes na área social? – como remédios gratuitos e acesso ao que há de mais moderno na medicina, a preços módicos. Em um ano e meio, a Venezuela estará livre do analfabetismo. E, juntamente com Cuba, formará 20 mil "médicos populares", que trabalharão junto às camadas mais pobres da sociedade.
  A "farra" terminará quando o preço do petróleo cair? Talvez. No entanto, em 1979 o barril de petróleo estava cotado em U$ 100; hoje, U$ 64 (salvo engano). A diferença é que os dividendo da estatal PDVSA, com Chávez, voltam-se agora para os menos favorecidos. Só nos últimos meses foram investidos U$ 500 milhões em projetos sociais. E os venezuelanos têm a absurda reserva de 300 bilhões de barris de petróleo. Os EUA, 20 bilhões.
  Eixo do Mal?  Na visão do presidente – ou "revolucionário", como faz questão de intitular-se -, Brasil, Argentina, Uruguai e Venezuela podem constituir um eixo econômico robusto, capaz de propor parcerias com países da União Européia, África e Oriente Médio. Essa união, entretanto, não se daria apenas no âmbito comercial, mas também no campo cultural. Opinião compartilhada pela cantora Beth Carvalho, que fez uma pergunta (previamente gravada) ao convidado a respeito da TeleSul e reafirmou a sua admiração pelo "revolucionário bolivariano". Chávez fez questão de lembrar de uma visita que os dois fizeram ao Morro da Mangueira, que o fez  pensar na necessidade de se recuperar os aspectos culturais da região – da arte à culinária. Segundo ele, Lula fez bem ao instituir a obrigatoriedade do curso de espanhol na grade curricular das escolas públicas brasileiras.
  Causou estranheza nos entrevistados um homem tão aparentemente destemido falar constantemente na morte, em diversas situações. Chávez disse que já fora desaconselhado por um amigo a tocar tanto no tema, "pois falar em morte atrai a morte". Um assunto que certamente causa-lhe desconforto, principalmente depois das declarações do líder evangélico conservador Pat Robertson, que propôs o assassinato do presidente. "São palavras de um terrorista que deveria estar preso, de acordo com leis internacionais", desabafou.
  Bush não poderia ficar de fora da festa. Foi ridicularizado, por ter "deixado os pobres de Nova Orleans morrerem afogados depois da passagem do Katrina. Em Cuba, Fidel conseguiu salvar até as galinhas". Um dos entrevistadores afirmou que Cuba não serve de exemplo, pois na Ilha não há democracia e, assim como na Venezuela, a miséria impera. Chávez não se fez de rogado. "Você já foi ao Bronx? Lá há miséria. E não se iluda, pois nos EUA não há democracia. Os pobres não votam. Além do mais, a primeira eleição de Bush foi fraudada. Em vez de gastar bilhões de dólares em armas, poderia ajudar a acabar com a fome e combater a epidemia de AIDS".  
  Markun termina o programa com uma pergunta folclórica: "o senhor acredita em Deus?". Após alguns segundos, Chávez mostrou bom humor. "Cada vez mais acredito em Jesus Cristo, o primeiro socialista da história. O primeiro capitalista é Judas Iscariotes, que vendeu Cristo por trinta moedas". Risos gerais.
  Fim de programa, vem os agradecimentos. Fica a impressão de que mudanças são possíveis. E elas já começaram. Não posso deixar de registrar que, por uns instantes, quis embarcar no bonde da revolução bolivariana ao lado dos irmãos venezuelanos"  
             
                     # Jorge Cordeiro @ 00:46 
            
            
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