O primeiro dia do ano
domingo, janeiro 01, 2006
Resistir = (re) existir. Estava carimbado numa das seis notas de 50 pratas que peguei no caixa eletrônico aqui perto de casa para pagar o Jordão, dono do guincho que me trouxe hoje de tarde lá de Jundiaí pra casa. O carro quebrou na estrada quando tentava chegar ao trabalho depois de passar o reveillon em Jaguariúna com a família. Estourou uma polia do alternador, a correia partiu, furou até o capô com a ricocheteada que deu. Forcei o bicho pra chegar a um posto, mas mifu, foi uma fumaceira só. Morri em R$ 300 pratas e vou morrer em mais não sei quanto na oficina pra arrumar a bagunça. E perdi o horário no trampo, claro.
Fiquei olhando praquela nota um tempo. Definitivamente, o caixa eletrônico de banco é o oráculo da vida moderna, tem respostas para tudo em notas de 10, 20, 50... carimbadas ou não, são elas que resolvem. Resistir é inútil.
Quando cheguei ao tal posto na rodovia dos Bandeirantes, encontrei um casal amigo, a eles expliquei meu perrengue, e ela: "pô, vc tá até muito calmo pra situação, se fosse eu já estaria socando e xingando todo mundo". Pois é, talvez eu devesse mesmo ter expurgado essa zica que parece ter colado em mim logo no primeiro dia do ano chutando a porra do carro, gritando com a telefonista da Autobahn que repetia como robô que não podia me ajudar, "infelizmente, senhor, só atendemos em caso de problema com a bateria ou para rebocá-lo a um posto, como o senhor já está num posto, infelizmente... tú, tú, tú", desliguei antes de mandá-la à merda! Mas não, segurei a onda e fui atrás de um mecânico ou guincho. Parecia meio anestesiado, por dentro uma voz berrava na cabeça, mas ao me ver em reflexos de portas de vidro e pára-brisas de carros, nem um músculo denunciava minha angústia, minha raiva, minha tristeza, minha dureza, minha vontade de chutar o balde e gritar.
Esperei sentado no meio-fio, embalado pelo som do Unida, Smile, the smile you used, you choose this hard life, yeah, ducaralho, quase impossível achar esse segundo disco (o primeiro também, está fora de catálogo, custa uma fortuna na Amazon), John Garcia e companhia afiadíssimos, não foi lançado porque brigaram com a gravadora e ela detinha os direitos sobre as músicas - mas a internet taí pra fazer justiça com o próprio mouse... :)
Jordão chegou, os cumprimentos de praxe, carro devidamente amarrado, eu no banco detrás da picape, inebriado pela facada que tomaria minutos depois, sem contar o conserto da merda toda depois na oficina, provavelmente ainda vão encontrar mais uma rebinboca da parafuseta pra tirar mais uns trocados meus, e ainda tenho que acordar às 5 da matina amanhã pra pegar o buzum e chegar às 7 em ponto no trampo, sem falha, porque aí vai ser foda...
Primeiro dia do ano... se eu pudesse mesmo (re) existir, faria uma penca de coisas de outra maneira, esse papo de "não me arrependo de nada" é pura balela, nêgo caga uma regra fudida, se fosse dada a oportunidade, garanto que 99% das pessoas fariam muita coisa diferente sim. Eu sei que Jung e seu conceito de sincronicidade estão meio que fora de moda - não pra mim, enfim... -, mas ao ver aquela mensagem na nota de 50 era como se o universo conspirasse para que eu começasse o ano levando em conta que tudo vai ser bem diferente. Oxalá que seja pra melhor.
(Não sei como estarei - ou mesmo se estarei - em 30 anos, mas vou mandar esta crônica para o futuro, só pra ver como reagirei ao lembrar desse perrengue todo em 2036.)
(ia comentar o documentário do Bob Dylan que ganhei de Natal, mas fica pra depois... vou chafurdar na manchete leviana do Estadão deste domingo e sonhar com carneiros elétricos...)
# Jorge Cordeiro @ 17:56
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