A arte de pesquisar
quinta-feira, setembro 30, 2004
Se você, como eu, se amarra em pesquisar quando apresentado a algo que não conhece muito bem (ou não sabe porra nenhuma mesmo), a dica é a página A9, criada pela Amazon há um ano. Trata-se de uma ferramenta que reúne resultados buscados no Google, Amazon, Internet Movie Database e GuruNet para a sua pesquisa. E ainda faz a memória da sua navegação na Internet, com os links visitados, e permite que você faça observações sobre as páginas, em anotações que são guardadas pela A9. Tem também um toolbar que você pode instalar no seu navegador preferido.
Simplesmente sensacional. Bela dica do meu camarada Passamani. O corno não visita muito o meu blog mas é gente boa... :)
# Jorge Cordeiro @ 17:28
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Tudo tranqüilo em Bagdá
O Bush Jr. foi à ONU recentemente e em seu discurso afirmou que o Iraque é um país melhor agora que Saddam está fora do poder e preso. Já o ex-astrólogo Olavo de Carvalho, em seu último artigo no jornal O Globo, disse que Bagdá é mais seguro do que o Rio ou São Paulo. É, realmente, nêgo viaja...
# Jorge Cordeiro @ 13:53
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Gmail é fichinha....
Quando o Google lançou sua versão beta de caixa postal, o Gmail, com 1 GB de espaço, foi um auê danado. Hotmail, Yahoo e outros tiveram que aumentar o espaço disponivel em seus serviços para fazer frente ao novo gigante do setor. Agora, uma empresa da Califórnia que edita uma revista online sobre motocicletas quer expandir ainda mais os limites disso tudo. A Hriders.com, que já oferece contas de 10 GB, agora pretende colocar no mercado contas de 100 GB! É espaço que não acaba mais! E segundo o pessoal da revista, o primeiro que conseguir lotar a caixa-postal de 100 GB - que comporta cerca de quatro milhões de mensagens de tamanho médio ou 200 mil imagens de alta resolução! -, ganhará de brinde uma conta de 1 terabyte de espaço, com servidor dedicado! Quem se habilita?
# Jorge Cordeiro @ 09:49
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Arrastão no Rio
quarta-feira, setembro 29, 2004
Turistas são atacados na praia do Leblon Croco Press
Um cinegrafista amador flagrou cenas do cotidiano carioca: dezenas de garotos maltrapilhos - ou como disse o Chico Pinheiro no Jornal da Globo, um "enxame" (sic!) de trombadinhas - assaltando quem se aventurasse pelas areias do Leblon, ou Lebronx, para os íntimos...
Agora que filmaram, vão fazer um puta auê, inquéritos, declarações bombásticas, reforço policial, donas de casa indignadas pedindo pena de morte, engravatados exigindo tanques nos morros, entrevistas com sociólogos, "que absurdo, assim os turistas desistem de vez do Brasil...", blá, blá, blá... O melhor do jornalismo 'pout-pourri' vai rechear jornais, revistas, rádios e TVs a partir de hoje. Será tema do Fantástico e capa da Veja, alguém duvida? E lá vamos nós de novo!
Pois é, pessoal, o que vai ser repetido ad infinitum agora é a situação normal de redistribuição de renda na marra: quem tem, tem; quem não tem, toma!
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Pesquisa feita pela Jupiter Research (uma empresa de consultoria de tecnologia) e divulgada esta semana diz que o bom e velho (nem tanto...) CD ainda vai reinar durante uns cinco anos antes da febre de baixar música pela Internet realmente tomar conta. Mas engana-se quem pensa que o consumidor será beneficiado. Essa mudança de tecnologia não significará redução de preço - basta lembrar o que aconteceu quando os LPs foram suplantados pelos CDs... As grandes gravadoras já se movimentaram pra tomar conta também essa nova forma de distribuir música e manter tudo do jeito que está - inclusive os preços.
Um bom exemplo disso é o iTunes, que vem sendo badalado como a nova cara da música na Internet. O pessoal do Downhill Battle, organização sem fins lucrativos que tem como objetivo lutar contra o monopólio das grandes gravadoras nesse mercado, revela o que há por trás de empresas como a iTunes, da Apple.
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Pra quem curte o jogo de estratégia WAR, a boa nova é que já dá pra jogá-lo online. É só entrar na página Warnet, se cadastrar (gratuitamente) e convidar os amigos pra guerra!
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Um dos blogs mais interessantes que vi por aí foi o Red Spring 89, no qual o cara narra o massacre da Praça da Paz Celestial, em Pequim, como se fosse um jornalista inglês. Blog de ficção muito interessante! Tá no começo ainda, mas já promete...
# Jorge Cordeiro @ 01:46
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A versão mística do Islã
domingo, setembro 26, 2004
"A ciência se aprende com palavras, a arte pela prática, o desapêgo com o companheirismo."
Mevlana Rumi Croco Press
Uma das facetas menos conhecidas - e mais legais - dos muçulmanos é a tradição sufi. Trata-se da parte esotérica do Islã, de uma tradição mais mística que tem muitos pontos em comum com o budismo e o taoísmo. Gosto muito da poesia sufi e também da música, principalmente depois que descobri o Nusrat Fateh Ali Khan, um cantor paquistanês já falecido, revelado ao mundo ocidental por Peter Gabriel.
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Um milhão de vivas para a Wikepedia! A enciclopédia online ultrapassou a marca de 1 milhão de artigos e tornou-se o maior livro do gênero do mundo. Mas o grande barato lá é que ela é totalmente livre - qualquer um pode não só colocar artigos na enciclopédia como também editar os já existentes. "Mas não vira zona?", você pode perguntar. Não. Dê uma olhada e confira. A Internet é livre e anárquica, mas muita gente ainda têm medo da liberdade e da anarquia, confundindo ambas com bagunça e desordem. Estão enganadas....
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Esse papo me lembrou um livro que li ainda nos tempos de faculdade, Medo à Liberdade, do psicólogo e sociólogo Erich Fromm.
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O domingão foi totalmente infantil para mim. De manhã, fomos eu, Ana e Martim, mais a Cris e a Luísa ao Parque Burle Marx, no Morumbi. Muito bom, lugar agradabilíssimo para se divertir com a gurizada, fazer um piquenique e relaxar um pouco da zoeira da cidade nas trilhas por entre plantas, flores e árvores de tudo quanto é tipo. No almoço, shopping Vila-Lobos (não poderia ser diferente, afinal, estamos em São Paulo!!) E no final da tarde, festinha de aniversário do Francisco, filho da Briza e do Fabinho. Não preciso dizer que estou acabado... Mas fiz questão de vir aqui atualizar o blog!
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Música da Semana - Boy With a Moon & Star On His Head (Cat Stevens - Catch Bull At Four)
# Jorge Cordeiro @ 20:53
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Paranóia americana
sábado, setembro 25, 2004
Cat Stevens (ou Yusuf Islam): barba, turbante e um nome árabe? Pros toscos dos americanos, é tudo terrorista... Croco Press
Lamentável esse episódio da expulsão de Cat Stevens (agora conhecido como Yusuf Islam) dos Estados Unidos. Os americanos estão chegando ao limite da paranóia e, com a provável reeleição do Bush Jr. (toc, toc, toc, vamos bater na madeira...), a tendência é piorar. Definitivamente, os Estados Unidos são hoje um país bem mais desagradável para se visitar do que tempos atrás. Tanto lugar pra se conhecer no planeta - a Capadócia, na Turquia, terra natal de São Jorge, por exemplo - eu é que não vou perder meu tempo naquela terra puritana, gordurosa e bélica. Me inclui fora dessa...
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Essa história de terrorismo gera tanta confusão na cabeça das pessoas que hoje o muçulmano é visto como um ogro, que só quer saber de se explodir em algum local público. Um pouco de reflexão e pesquisa na Internet (ou biblioteca ou livraria, como queiram) pode talvez desfazer esse terrível engano. Os muçulmanos sempre foram um exemplo de tolerância religiosa e social, além de terem dado inúmeras contribuições importantíssimas para o conhecimento humano.
Onde então está o ruído na comunicação entre ocidentais e o mundo árabe? Isso sempre me intrigou e por conta disso descobri um livro que recomendo aqui: As Cruzadas vistas pelos Árabes, de Amin Malouf. Boa leitura!
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Para quem ainda duvida da força dos blogs, recomendo ler sobre o episódio em que informações divulgadas pela CBS sobre o currículo militar de Bush Jr. tiveram que ser corrigidas por estarem baseadas em documentos falsos e interpretações incorretas de dados do exército americano. Pena que os blogs em questão são os do lado negro da força, pró-Bush... :)
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Pra relaxar... (a idéia é levar os dois carinhas para onde estão os outros amigos. Tem que clicar em determinados pontos da tela pra eles passarem à próxima... ah, não vou explicar tudo, se virem!:)
# Jorge Cordeiro @ 16:42
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Jogada de mestre ou puta sacanagem?
sexta-feira, setembro 24, 2004
O Internet Explorer subiu no telhado. A Microsoft anunciou esta semana que só disponibilizará a nova versão do Internet Explorer para quem usa o Windows XP. Como a esmagadora maioria dos cerca de 200 milhões de usuários do Internet Explorer ainda estão usando coisas antigas como Windows 2000, 98 e até 95, das duas, uma: ou a M$ vai se dar bem e assistir a uma enxurrada de atualizações (pagas, que fique claro...) dos sistemas operacionais, apostando que ninguém vai querer ficar com versões antigas do Internet Explorer (um dos piores e menos seguro navegadores do mercado), ou vai dar o empurrão que falta para a popularização de outros navegadores infinitamente mais seguros, estáveis e amigáveis, como o Mozilla Firefox ou o Opera. Aposto na segunda hipótese...
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E o Google Browser está chegando! Já não bastasse a feroz concorrência do Mozilla Firefox e do Opera, rumores indicam que o pessoal do Google está pensando seriamente em lançar um navegador. Levando-se em conta a ferramenta de busca deles e os dois últimos lançamentos, o Gmail e o Orkut, vem coisa boa por aí...
Os caras do Google entenderam como poucos o que os internautas querem da grande rede de computadores: produtos bons e gratuitos. A grana quem tem que dar são as grandes empresas, pagando por anúncios, relatórios de navegação na Internet, pesquisas, etc etc... Ou seja, informação é dinheiro...
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99rooms. Spooky....
# Jorge Cordeiro @ 13:09
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Mídia em campanha
quinta-feira, setembro 23, 2004
Aqueles que ainda acreditam na independência da mídia precisam ler com urgência o material elaborado pelo Observatório Brasileiro de Mídia, uma pesquisa que fizeram sobre a cobertura das eleições municipais dos cinco principais jornais de São Paulo. A matéria é reveladora...
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A versão 1.0 do navegador Mozilla Firefox foi baixada 1,3 milhão de vezes! Sucesso total. Se vc quiser o seu, aí do lado tem um link para o sítio do Mozilla.
# Jorge Cordeiro @ 01:38
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Taxa Tobin já!
quarta-feira, setembro 22, 2004
Leio sempre o sítio NoMínimo porque considero que eles têm lá a nata do jornalismo brasileiro, nas mais diversas áreas. Uma das estrelas ali é Guilherme Fiúza, autor do livro Meu Nome Não é Johnny, um dos grandes lançamentos do ano, que narra as desventuras de um ex-traficante de classe média alta do Rio de Janeiro. Mas o artigo dele desta semana está particularmente escroto. O cara debocha das ambições dos governos brasileiro, francês, espanhol e da própria ONU em procurar alternativas para se combater a fome no mundo. E de maneira tosca, quase má-intencionada. Se há erros nos programas sociais no Brasil, que sejam corrigidos. Descartá-los e deixar tudo na mão da iniciativa privada, como quer Bush por exemplo, é estúpido. E vil. Bola fora, sr. Fiúza.
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A Taxa Tobin, por exemplo, pode ser um bom mecanismo para unir esforços no combate à pobreza no mundo. Ela foi devidamente ignorada por Fiúza, claro, porque não interessa a ele discutir o assunto, só colocar seu ponto de vista e pronto. Muito pouco vindo de um jornalista...
A taxa foi idealizada pelo economista americano James Tobin, prêmio Nobel de Economia, e tem como objetivo taxar em 1% as transações financeiras em todo o mundo. O dinheiro seria remetido a um fundo mundial de combate à pobreza. Para mais informações sobre a Taxa Tobin, ver o sítio Attac - Association pour la Taxe Tobin pour l´Aide aux Citoyens (Associação pela Taxa Tobin para Ajudar os Cidadãos).
# Jorge Cordeiro @ 22:42
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Novelão Olga vai disputar o Oscar
terça-feira, setembro 21, 2004
O livro virou filme e vai virar mini-série da Globo... Será que chega a reality show? Croco Press
Putz, e Olga foi o filme brasileiro escolhido pra concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, desbancando Narradores de Javé e Redentor, entre outros... Porque não passam Celebridade para película e colocam o folhetim na disputa em Hollywood? Novela por novela, fiquemos com o original!
Anotem os nomes dos culpados por esse mico do ano: André Sturm (distribuidor, dono da Pandora Filmes), Carla Camurati (cineasta... até vc, Carla?), José Geraldo Couto (colunista da Folha), Luiz Severiano Ribeiro Neto (do grupo Severiano Ribeiro, que tem vários cinemas no Rio) e Paulo Maurício Germany Caldas (não sei quem é, mas com esse nome de ator de novela mexicano...)
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Vc sabe dirigir?
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E o Sexkut, heim? O pessoal do Cocadaboa diz que foi trote mas que agora é pra valer. Vai saber...
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Por falar no Cocadaboa, conhecem o Aristarco Pederneiras? hehehehe, é genial! Os caras do Cocadaboa ficam passando trotes no Rio e gravam tudo. É de rolar de rir!
# Jorge Cordeiro @ 23:03
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Let It Bed - Arnaldo Baptista
Para fãs... de música! Croco Press
Demorei mas enfim escrevo sobre o novo disco do Arnaldo Baptista, figura ímpar do roquenrol brasileiro. Passei uns dias curtindo o disco no carro (já que o CD não toca no computador...saco) e fiquei bem impressionado com o retorno do eterno mutante - um gol de placa da revista Outra Coisa. Let It Bed tem tudo o que se podia esperar de um cara como o Arnaldo: psicodelia, poesia, irreverência, boas sacadas. Ele toca todos os instrumentos e se mostra mais afiado do que nunca.
Depois de duas canções/vinhetas ("Gurum Gudum" e "Everybody Thinks I´m Crazy", uma trilha do desenho do Pica-Pau, de 1941) e uma terceira ("L.S.D") em que presta homenagem à trindade que fez ele ser quem é - religião, drogas e roquenrol -, finalmente chegamos ao resultado de uma das parceiras mais interessantes e promissoras do cenário musical brasileiro: Arnaldo Baptista e John Ulhoa, guitarrista do Pato Fu que cuidou da mixagem, orquestração, produção e otras cositas más deste CD.
Escutem To Burn Or Not To Burn, e depois me digam se não tenho razão. O som nasceu de uma poderosa linha de baixo e ganhou força com a ajuda dos computadores de John. Aliás, pausa para reverenciar esse cara que é, para mim, um pouco subestimado no Brasil. O cara saca tudo de música. Desde os tempos do Sexo Explícito, sua primeira banda, ele já se destacava - lembro de quando a gente lá na Escola de Comunicação da UFRJ (ECO) colocava o som dessa banda pra rolar na Rádio Livre 91.50 e ficávamos impressionados com a habilidade dele na guitarra. No Pato Fu, em meados da década de 1990, mostrou que era mais do que um simples guitarrista, programando a bateria eletrônica de uma forma que ninguém dizia que a banda não tinha baterista! Show de buela!
O casamento do mestre Arnaldo com o pupilo John deu muito certo. Apesar de um ou outro efeito de gosto duvidoso, como em "Imagino", John conseguiu dar corpo a pérolas como Cacilda, que foi gravada há mais de 30 anos em fita K7. Ou "Deve Ser Amor", em que a porção baixista de Arnaldo é mais uma vez realçada como manda o figurino - e a letra é genial: "Eletricidade solar nos carros// Não poluem nem gastam nada// Lambidas na utopia // 'slept'!"
Se o Arnaldo tinha a preocupação, em 1974, de virar ou não bolor ("Será Que Eu Vou Virar Bolor?", do disco Loki?), pode ficar tranqüilo. O cara tá inteirão - ok, ok, a voz tá meio baleada, mas dá pra contornar isso sem problema. Bola pra frente agora.
Em tempo: antes de terminar, queria apenas fazer uma observação. O pessoal responsável pelo lançamento do CD do Arnaldo Baptista achou melhor bloquear o uso do CD em computadores. Quando vc coloca o disquinho no CD-Rom, em vez de tocarem as músicas, aparece uma tela com releases, fotos e três clipes de músicas do disco (A de "Deve Ser Amor" é muito legal). Beleza, tudo muito bom, mas eu quero ter o direito de escutar o som no computador também. Eu comprei a revista na banca, paguei pelo CD e tenho esse direito. Mas o pessoal ainda tem essa mentalidade tacanha de que 'ripar' o CD e colocar as músicas na Internet é ruim para o artista. Ô gente burra! E não adiantou nada, porque o disco já foi craqueado e todas as músicas estão disponíveis para serem baixadas em qualquer rede P2P na Internet. E o que eu vou fazer? Mesmo tendo comprado o CD, vou baixar as músicas também, porque quero escutá-las no computador quando me der na telha... Entenderam?
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Atenção fãs de Frank Zappa! Dia 28 de outubro tem show da banda Central Scrutinizer no Café PiuPiu, lá no Bexiga. Até lá!
# Jorge Cordeiro @ 10:56
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CeuGarden
segunda-feira, setembro 20, 2004
Estive hoje na zona norte com um jornalista escocês, pra ele conhecer um Telecentro e um CEU da Prefeitura de São Paulo. Ele está fazendo uma matéria sobre o uso do Linux no Brasil em projetos de inclusão digital. Levei primeiro no Telecentro Allan Black, que fica no Jardim Antártica. Depois, ao CEU da Paz, na Brasilândia, que também tem um Telecentro. O CEU da Paz fica exatamente no meio de uma enorme favela, no alto de um morro, visão impressionante, um mar de barracos para todos os lados. Quer dizer, nem tanto. Em uma das encostas do CEU, havia um bosque de mata nativa. Agora, em metade dela, há uma grande invasão, com vários lotes e barracos já estruturados. "É o CEUGarden, condomínio/invasão", me disse uma funcionária do CEU. "Aquele barraco maiorzinho, é a 'imobiliária' do local, o cara chega na sua S10 e orienta todo o trabalho ali. É ele quem manda e vende os lotes." Lotes que devem ser valiosos. Afinal, estão ao lado do CEU e toda sua estrutura - creche, salas de aula, piscinas, quadras de esporte, teatro e pista de skate
Perguntei de quem era a área e fui informado que o local pertence à Prefeitura de SP. O pessoal da subprefeitura parece que já tentou tirar o pessoal de lá, mas sem sucesso. "Eles dizem que em época de campanha, ninguém tira eles de lá, pegaria mal pra Prefeitura", me disse minha interlocutora. "Até tentaram algumas vezes, mas eles saem hoje e voltam amanhã. E sempre provocam, porque sabem que se forem retirados à força, vai dar dor de cabeça para a Prefeitura." Ô pessoalzinho oportunista... Me cheira a algo orquestrado...
# Jorge Cordeiro @ 17:20
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Reminiscências da semana que passou
domingo, setembro 19, 2004
Sem marra e com muito suíngueCroco Press
Vi sábado na MTV o acústico do Marcelo D2. Tenho que dar o braço a torcer: o cara tá mandando muito bem! Nunca fui fã dele ou do Planet Hemp, mas agora fiquei afim até de comprar esse acústico, que faz uma pra lá de interessante fusão do hip-hop com samba, do scratch com batuque, do rap com a canção. Maneiríssimo...
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A campanha eleitoral tá acirrada, Marta e Serra pau a pau. A mídia paulistana já se decidiu pelo ´vampirão´, principalmente os grupos Folha e Estado, que metem pau sem dó nem piedade na prefeitura. Não interessa ao projeto político dessas empresas a reeleição da Marta e o fortalecimento do PT. Tanto é assim que o Alckmin é praticamente ignorado. Aliás, o ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, acertou na veia hoje em sua coluna semanal no jornal, pegando justamente esse foco (eu daria o link aqui, mas a política do grupo Folha, como de vários outros, é de fechar conteúdo, um tiro e tanto no pé...) E quando tem coisa boa pra falar da prefeitura de SP - ou da Marta, oudo PT -, escondem a matéria, colocando na capa uma manchete sobre furacão no Caribe, atentado no Cazaquistão, matança no Congo, aumento do preço da cebola no Togo...vale tudo! Por essas e outras que eu acho que jornalista tem que deixar claro seu voto, sua posição política. Os jornais de São Paulo não estão fazendo jornalismo, estão fazendo campanha...
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Beraba fala também da falta de boas histórias nos jornais, que os deixam todos muito parecidos, emburrecidos, chatos enfim... Digo isso há tempos... Talvez essa seja a razão pela qual as vendas dos jornais estejam caindo tanto, porque por mais pobre e iletrado que seja o Brasil, há uma elite e tanto que consome vorazmente muitas revistas, jornais e afins. Mas como tá tudo muito chato, esse pessoal está comprando revistas e jornais estrangeiros. Tenho um amigo publicitário que chega a gastar R$ 500 (!!) por mês em revistas americanas, inglesas, italianas. E sem leitor/consumidor, não tem anunciante, etc etc...
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Estava hoje à tarde na Livraria da Vila comprando uns livros quando, já na fila pra pagar, dei de cara com o livro "As Famílias do Petróleo - As relações secretas entre os clãs Bush e Saud", de Craig Unger, da editora Record. Foi lançado este ano. É claro que vai na aba do sucesso do 9/11 do Michael Moore, e que bom que assim seja! Afinal, o documentário jogou luz num assunto nebuloso e vai estimular outros a filmarem, escreverem, questionarem... já que a imprensa não faz isso, que seja um cineasta!
Por falar nisso, recebi uma animação interessante, feita em Flash, que lança dúvidas sobre o que realmente ocorreu com o prédio do Pentágono no 11 de setembro de 2001. A versão oficial diz que foi um boeing 757 que se espatifou no prédio, mas convenhamos, a carcaça nunca apareceu e o local não parece ter sido atingido por um avião do tamanho de um Boeing. Há quem diga que foi um caminhão, um míssel ou um avião menor, um jatinho. Essa última parece ser a versão sustentada pelo pessoal que fez a animação - muito boa por sinal.
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Meu filho e a Ana acabaram de chegar do Guarujá. E a coluna fica por aqui. Até domingo que vem! (Não esqueci da crítica do novo disco do Arnaldo Baptista não, vou fazer logo mais à noite. Agora tenho que ir para uma festa de aniversário de um amiguinho do Martim, de 4 anos. Inté!)
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Música da semana: To Burn or Not To Burn (Arnaldo Baptista)
# Jorge Cordeiro @ 20:57
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A volta de Arnaldo Baptista
sábado, setembro 18, 2004
Comprei a revista OutraCoisa deste mês, a que vem com o novo CD do Arnaldo Baptista. Estou degustando o som, ainda não tive tempo de ler nada dela. Amanhã coloco aqui minhas impressões sobre o disco - e um pouco sobre a revista também, que tá bem legal (pelo o que vi dos números anteriores). Graaaande Arnaldo!!
Agora tenho que ralar... dar um gás no livro que estou escrevendo, uma biografia de um sujeito bem interessante, empresário suíço que vive no Brasil há 30 anos. Aficcionado por motores, barcos, aviões, helicópteros, carros de corrida, um ótimo personagem. Tem história que não acaba mais... Ainda estou na fase das entrevistas, com ele, familiares, amigos, funcionários... um dia dou uma palhinha de quem é o cara.
abs!
# Jorge Cordeiro @ 15:04
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Trincheira digital
sexta-feira, setembro 17, 2004
Para quem curte o debate envolvendo direitos autorais, propriedade intelectual, liberdade de informação, direitos do consumidor, oligopólio, liberdade civil, liberdade artística e livre circulação de informação, entre outros tópicos, não pode deixar de conhecer - e se engajar! - a Electronic Frontier Foundation. Lá você terá pormenores sobre essa batalha que vem se desenrolando ferozmente nos bastidores da Internet.
A EFF é uma organização não-governamental baseada em São Francisco, nos Estados Unidos, e fundada em 1990 por especialistas em tecnologia da informação, entre os quais Mitch Kapor, ex-presidente da Lotus (pré-histórica companhia de software) e John Gilmore, um antigo funcionário da Sun Microsystems. Outro que está do lado de lá da trincheira é o lendário John Perry Barlow, fazendeiro e letrista da banda Grateful Dead, além de aguerrido ativista pelos direitos civis desde a década de 1960.
Enfim, é uma galera do bem.
# Jorge Cordeiro @ 14:28
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Garimpo na Internet
Esqueçam as longas caminhadas por ruelas obscuras, a infinita procura em sebos do Centro da cidade, as mãos sujas de tanto manusear discos e CDs antigos, as fortunas gastas em raridades fora de catálogo. Colecionadores do Brasil, regojizai-vos! O paraíso da boa música está ao alcance do seu computador - desde que conectado à Internet, claro.
O caminho para esse paraíso se chama SoulSeek. Trata-se de um programa de compartilhamento gratuito de arquivos como muitos outros que já povoam o universo virtual (Kazaa, Morpheus, entre outros). Mas há um diferencial fundamental: ao contrário dos outros programas, em que a maior parte dos arquivos de música disponíveis são de artistas populares que podem ser encontrados sem problema algum na loja da esquina, o SoulSeek traz o 'creme de la creme' da produção musical de artistas cultuados mundo afora.
Só para dar água na boca: discos como o do lendário baterista de jazz/funk Idris Muhammad, trilhas sonoras antigas como as dos filmes da Pantera Cor-de-Rosa com músicas do maestro Henri Mancini, ou a bizarra coletânea Brazilian Nuggets, criada apenas virtualmente (nunca foi lançada comercialmente por nenhuma gravadora), que traz nomes como Megatons, Youngsters, Os Brasas e Serguei, são figurinhas fáceis no SoulSeek. Tudo devidamente catalogado, com data de gravação, nome dos artistas e, em muitos casos, até mesmo a gravadora original do fonograma.
Embora haja muita discussão sobre a legalidade ou não da troca de arquivos musicais pela Internet, é difícil questionar o papel de preservação da cultura musical mundial do SoulSeek. Afinal de contas, os usuários do programa disponibilizam livremente suas preciosas discotecas para o público, que teria imensas dificuldades para encontrar tais raridades - seja porque os LPs ou CDs originais já estão há tempos fora de catálogo ou devido aos preços exorbitantes cobrados no mercado.
Um bom exemplo de um álbum que está fora de catálogo e só pode ser encontrado em sebos (a busca pode levar meses, até anos, acredite) é "Quincy Jones Explores The Music Of Henri Mancini", de 1964, da gravadora americana Mercury. Nem na Amazon você encontrará esse título. No mercado de colecionadores, o LP original chega a custar R$ 500. Nunca foi feito um
CD desse disco. Até a chegada do SoulSeek, é claro. Graças a um benevolente proprietário de um disco original, legiões de fãs e amantes da boa música podem agora desfrutar do belíssimo trabalho feito por Quincy Jones.
Mas não é só antigüidade que pode ser encontrada no SoulSeek. "Jalamanta", disco solo do baterista Brant Bjork (Kyuss, Queens of Stone Age, Fumanchu, entre outras bandas) de 1998, nunca foi lançado no Brasil e provavelmente nunca será. Para conhecer o som, só há dois caminhos: a importação (ao custo de mais ou menos R$ 80) ou a ajuda de um amigo de fé que esteja de férias no exterior. Agora, há o terceiro caminho...
# Jorge Cordeiro @ 14:18
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Quando o cinema faz História
O documentário Fahrenheit 9/11, de Michael Moore, que estreou no Brasil no último dia 30 de julho, está fazendo história. Não apenas por ter sido o primeiro documentário desde a criação do cinema a conseguir um faturamento de mais de US$ 100 milhões nas bilheterias americanas, ou ser o primeiro filme americano desse tipo a vencer a Palma de Ouro 2004 em Cannes. Fahrenheit 9/11 faz história também porque dá à História esse 'agá' maiúsculo que ela merece.
Quem conhece Michael Moore por seus outros filmes, como Roger e Eu ou Tiros em Columbine, sabe o que vai encontrar: boas histórias que ficaram de fora da história oficial, da história dos vencedores. Em Roger e Eu (1989), no auge da deificação da globalização, teve a pachorra de mostrar os 'efeitos colaterais' de um 'laisser-faire' econômico que tinha regras bem definidas - nós (o G8 e as grandes corporações) ganhamos, vocês (o resto) aguardem sua vez. Tiros em Columbine tocou em 2002 na grande ferida americana, os massacres provocados por jovens estudantes e o psico-fascínio por armas que transformou os Estados Unidos numa nação paranóica e violenta.
Você pode discutir e discordar da versão de Moore para os temas propostos - os 'efeitos colaterais' da globalização e o duvidoso benefício do armamento civil - mas nunca negá-los simplesmente. Ignorar tais fatos sem debatê-los é contribuir para o empobrecimento do conhecimento humano. É fazer História para poucos. A História, dizem, é dos vencedores. São eles quem ditam o que as gerações futuras têm que conhecer sobre os fatos, jogando pra debaixo do tapete detalhes, coincidências ou 'teorias conspiratórias' que possam manchar as glórias e feitos dos heróis escolhidos. Divergências e dúvidas não são bem-vindas.
E lá vem de novo aquele americano maluco, gordo e de bonézinho insistir em dar sua contribuição à História com a versão dos vencidos. Anos depois dos atentados às torres gêmeas, da invasão ao Afeganistão e posterior 'caçada' a Osama Bin Laden, além da conquista do Iraque e seus poços de petróleo, vem um filme como Fahrenheit 9/11 bagunçar tudo o que as grandes corporações de mídia, toneladas de comunicados oficiais do governo americano e milhares de depoimentos de expoentes da política e economia mundial disseram e repetiram para os incautos - a guerra é justa e quem não está do nosso lado, está contra.
É, mas a verdade dos vencedores talvez não seja tão verdadeira assim. Fazer a História ter sentido e não ser apenas uma sucessão de fatos dispersos é a função de um documentarista. E Michael Moore atingiu esse objetivo com louvor em Fahrenheit 9/11. Como disse antes, pode-se até discutir como Moore defendeu seu ponto de vista, mas negar sua contribuição para que os acontecimentos tão influentes na vida de cada cidadão do planeta sejam devidamente escrutinados é, no mínimo, calhorda.
Moore teve em Fahrenheit 9/11 a atitude que todo jornalista político ou econômico deveria ter em relação à sucessão de fatos e casos que foram revelados desde que o primeiro avião se chocou ao World Trade Center de Nova Iorque em 11 de setembro de 2001. Questionou a relação da família Bush com a família Bin Laden; mostrou que boa parte da alta cúpula do governo americano tinha interesse direto no petróleo iraquiano; relembrou as falsas justificativas para a guerra do Iraque (as tais 'armas de destruição em massa'); conversou com pessoas comuns que foram enganadas pela propaganda militar, que as fez ver a guerra como um programa divertido nas arábias; e deu voz a todos os acusados, que não falaram com ele diretamente mas estão presentes no filme em generosas doses de depoimentos, declarações, discursos e entrevistas veiculadas por inúmeros órgãos de imprensa - tudo público e à disposição de quem quer que seja.
Mas dá trabalho juntar A + B, e a História dos vencedores não costuma (nem deseja) ter esse trabalho. Se os ataques feitos ao conteúdo do filme são torpes pela maneira como negam toda e qualquer possibilidade de aceitação a uma versão diferente da oficial, os dirigidos à cinematografia de Michael Moore chegam a ser ingênuos. Fahrenheit 9/11 tem tudo o que um bom documentário deve ter - e mais um pouco.
Afinal, o que se espera de documentários? Bem, no mínimo, que tenha um roteiro que faça sentido; que compre uma tese e demonstre-a com clareza; que evite a manipulação dos fatos; e, talvez o mais importante (o tal 'mais um pouco'): que leia as entrelinhas da História. Com uma edição ágil, impressionante pesquisa de imagens e documentação, escolha feliz de personagens e um roteiro bem amarrado, Moore nos conduz por quase duas horas pelos meandros da geopolítica economica-militar sem causar enfado ou confusão nos espectadores. Fahrenheit 9/11 é simples e denso na medida certa.
E como não ver puro cinema na maneira como Moore 'mostra' o atentado de 11 de setembro? Ao estilo dos melhores filmes de suspense, o espectador é levado para o climax de forma impactante e, ao mesmo tempo, serena. A cadência da música de Jeff Gibbs e as imagens de um presidente Bush auto-confiante e completamente alheio dão a senha do que está por vir. É quando uma gigante tela preta surge à frente, deixando o espectador a sós com sua memória, traduzindo de forma particular o acontecimento que mudou os rumos do século 21.
Até as famosas - e por vezes desnecessárias - 'pegadinhas' que o cineasta gosta de aplicar cumprem aqui mais um papel elucidativo do que meramente cômico. O espectador dificilmente vai conseguir segurar o riso ao ver a cara que um congressista americano faz ao saber, depois de cumprimentar efusivamente Moore, que este na verdade quer a sua assinatura apoiando a ida do próprio filho para a guerra no Iraque. Um bom filme, documentário ou não, nos faz rir, chorar, pensar. Nos faz sair diferentes do cinema. Fahrenheit 9/11 faz sucesso, nos Estados Unidos e no mundo, não é à toa. As pessoas parecem estar cansadas da história oficial, da história dos vencedores. Elas querem mais. A História agradece.
# Jorge Cordeiro @ 14:12
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Brant Bjork - O Som do Deserto
Local Angel é um disco pra deixar no 'repeat' direto... Croco Press
Nascido e criado no deserto de Mojave, na Califórnia, Brant Bjork parece uma miragem no meio do cenário 'stoner' da costa oeste americana. Ex-baterista de bandas badaladas como Kyuss e Fumanchu, Brant tem provado a exemplo de seu amigo Josh Homme (ex-companheiro no Kyuss e atual líder do Queens of Stone Age) que há vida inteligente no roquenrol californiano atual.
Quando lançou Jalamanta em 1999, deixou muita gente de boca aberta graças às levadas suingadas que tirou em doze inspiradas faixas. Dois bons álbuns depois (Brant Bjork & The Operators, de 2002, e Keep Your Cool, de 2003), Brant Bjork confirma a boa impressão deixada com um quarto disco primoroso, Local Angel (pela gravadora Duna Records, de sua propriedade), que estará nas lojas mundo afora a partir do dia 10 de agosto próximo.
Em pouco mais de 50 minutos, Brant Bjork cativa pela simplicidade e bom gosto nos arranjos, convidando o ouvinte a sentar, relaxar e curtir um som. Não à toa muitos o consideram o J.J. Cale do 'stoner rock'. Gravado no lendário estúdio Rancho de la Luna, em seu deserto de Mojave natal, Local Angel - que traz na capa o trabalho do tatuador californiano Mr. Cartoon -, talvez seja a mais perfeita tradução dos sons do deserto, do vento arrastando poeira, da madeira estalando no fogo, dos pios e uivos dos predadores noturnos.
Responsável por todos os instrumentos - além das letras, arranjos e produção final -, Brant Bjork conseguiu uma harmonia e excelência do nível de Jalamanta, seu obra-prima até aqui e também fruto de seu multi-instrumentalismo. Belas canções como Beautiful Powers, que abre o disco, e Hippie, que entra em seguida, trazem marcantes linhas de baixo e uma suave guitarra criando um colchão sonoro agradável e relaxante. The Feelin' traz sua marca registrada: um início básico, com uma guitarra seca e vocais bem postados, para de repente, sem avisar, detonar um baixão de arrepiar, acompanhado de uma batida simples de bateria.
Brant paga tributo também a suas influências funqueiras, como em Bliss Ave, em que nos brinda com uma guitarra a la Meters; e ao roquenrol estradeiro, como em The Good Fight - talvez a melhor música do disco, ao lado de The Feelin'.
O tempo passa devagar com Local Angel. Quando chegam as duas faixas bônus - uma surpreendente versão de Hey Joe e a quase-vinheta acústica I Want You Around -, a miragem já se formou. Você, Brant e um punhado de amigos estão curtindo um som em algum lugar distante. A música rola sem firulas e hipnotiza como um mantra roqueiro. De repente, o disco acaba! E, antes que a miragem se desfaça, logo vem uma incontrolável vontade de apertar a tecla PLAY e começar tudo de novo...
# Jorge Cordeiro @ 10:42
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Atletas Geneticamente Modificados
quinta-feira, setembro 16, 2004
Durante as Olimpíadas de Atenas, fiquei conhecendo o trabalho de um pesquisador escocês bem interessante, o Andy Miah. Ele lançou um livro (julho de 2004) chamado 'Atletas Geneticamente Modificados: Ética Biomédica, Doping Genético e Esportes' no qual discute o assunto sem preconceitos nem deslumbramento. A página dele na Internet também vale uma visita, tem bastante informação sobre seus projetos ligados ao esporte, à biomedicina e à bioética.
Resolvi tentar uma entrevista, que valeria tanto para a revista em que eu estava frilando na época como também para matar minha curiosidade sobre o tema, que é instigante e desafiador - afinal, sempre fui contra os transgênicos. Agora já não sei bem ao certo...
As perguntas foram enviadas em três e-mails ao longo de uma semana. O jovem professor (tem 26 anos) respondeu a todas numa boa, de imediato. Segue a entrevista :
P - Qual é o futuro dos esportes?
R - Recentemente a Agência Mundial Anti-Doping (Wada, na sigla em inglês) anunciou um teste para a detecção do hormônio de crescimento humano. Eles trabalharam durante anos para chegar a esse ponto e agora conseguiram. O futuro dos esportes para os atletas será de incontáveis outros testes, mas isso não vai resolver o problema. A modificação genética, por exemplo, pode não ser detectada ou envolverá um procedimento muito invasivo no corpo para ser identificada. Poucos comitês éticos do esporte permitiriam tal procedimento. Portanto, temos que nos preparar para um futuro esportivo em que a modificação genética seja permitida e tentar torná-la a mais segura possível para os atletas.
P - A manipulação genética pode vir a ser usada normalmente no esporte? Entidades como o COI ou a Fifa permitiriam isso?
R - O COI não decide mais sobre políticas anti-doping - isso fica a cargo da Wada. E a agência já determinou a proibição da manipulação genética, mas acho que essa política terá que sofrer mudanças muito em breve. Especulações sobre o uso da manipulação genética já nos Jogos de Atenas deste ano variam muito. Penso ser importante considerarmos essa possibilidade. Não podemos adiar o processo de discussão sobre a moralidade dessas modificações.
Há estudos que mostram quais poderiam ser os efeitos de melhorias genéticas, mas nenhum desses estudos foram aplicados a humanos. Por esta razão, os atletas estariam se arriscando muito se usassem essa tecnologia - que pode nem melhorar seu desempenho esportivo. É por esta razão que precisamos da ciência e do debate, para assegurar que os atletas só usem tal tecnologia de forma segura e com resultados.
P - Isso não vai contra o espírito esportivo de superação de limites? Não seria o fim do esporte como o conhecemos hoje?
R - O esporte hoje já é uma competição entre tecnologias. O esporte é, ele mesmo, uma tecnologia. Se baseia na interseção da humanidade com a ciência. E isso não deveria ser visto como algo negativo. Quando muito, essa nova tecnologia vai melhorar a autonomia do atleta e permitir a ele se dedicar a outras formas de ser humano. Isso seria bom para o esporte, em que a ideologia do homem 'natural' não faz o menor sentido.
P - Em seu livro 'Atletas Geneticamente Modificados', você diz que alguns atletas que estarão em Atenas podem já ter sido geneticamente modificados. Em quê você se baseou para fazer tal afirmação?
R - Se olharmos para a história do anti-doping, o conhecimento sobre o que os atletas estão tomando ou não sempre foi objeto de especulação. Temos que nos basear no que a ciência nos dá e assumir que os atletas estarão sempre em busca de métodos não-detectáveis para melhorar seu desempenho. Nós sabemos que a tecnologia do doping genético é possível, mesmo não sabendo se terá o efeito desejado.
Estudos mostram como pode ser possível para um atleta aumentar sua massa muscular ou capacidade de resistência usando a tecnologia de transferência genética. Aqueles que negam a possibilidade disso acontecer hoje, não negam que seja possível acontecer. Eles negam que seria uma melhoria de fato. Não temos evidências para afirmar isso, mas isso não significa que está além dos limites do possível. Para outras formas de doping, nós admitimos que haja a possibilidade de novas drogas, e por isso temos que pensar da mesma forma em relação à modificação genética.
P - Como a modificação genética pode melhorar o esporte e o desempenho do atleta?
R - As aplicações atuais indicam maneiras de se aumentar a massa muscular utilzando-se de fatores de crescimento, como o IGF-1, que é parecido com a insulina. Para aumentar a capacidade de resistência de uma pessoa, pode-se promover o desenvolvimento dos glóbulos vermelhos do sangue, que carregam oxigênio pelo corpo. Isso é possível pela introdução de DNA externo por meio de um vírus, que infectaria uma determinada área do corpo do atleta com o novo DNA. No entanto, outras aplicações são possíveis também. A transformação ou desligamento de certos tipos de fibras musculares para otimizar o uso das fibras desejadas poderia ajudar aos corredores de longas distâncias. A alteração genética da sensação de dor também poderia beneficiar um atleta durante uma competição.
P - Você acha que a modificação genética pode ser permitida, ou pelo menos tolerada, pelos organismos esportivos internacionais, como o COI?
R - Temos que observar mais cuidadosamente outras formas de lidar com a modificação genética no esporte. Só os testes anti-doping não são a solução. Este ano, a Agência Mundial Anti-Doping (Wada) proibiu antecipadamente o doping genético, mas outras questões precisam ser feitas. Há uma questão mais abrangente em jogo com a modificação genética, que tem a ver com o papel da tecnologia genética na sociedade.
A Wada está preocupada sobre a saúde dos atletas e com o espírito do esporte. Pois eu acho que as duas coisas podem ser preservadas mesmo que a modificação genética seja permitida. Aliás, como a tecnologia genética promete formas mais saudáveis de modificação do desempenho esportivo do que os atuais métodos de doping, isso seria preferível do que o uso de drogas sintéticas, que provocam todos os tipos de efeitos colaterais desconhecidos. A decisão sobre esse assunto não pode ficar apenas no mundo do esporte.
P - A manipulação genética pode melhorar o sentido de competição ou o esporte está condenado caso se aproxime muito de tal tecnologia?
R - O esporte é uma atividade tecnológica. A tecnologia melhora a competição. A modificação genética não dá ao atleta um atalho para a medalha de ouro. Talvez faça com que o atleta treine mais. O esporte perpetua uma ambigüidade sobre como gosta de usar a tecnologia. Às vezes a tecnologia é vista como algo positivo, outras vezes é ameaçadora. As autoridades anti-doping precisam considerar um contexto mais amplo do uso da tecnologia no esporte para debater o doping genético.
Por exemplo, como diferenciar a aceitabilidade do doping sangüíneo e uma nova raquete de tênis? Nos dois casos temos algum tipo de melhoria no desempenho, mas nossas reações a cada um é bem diferente. Não é tão simples dizer que o doping sangüíneo é anti-ético porque há o risco para a saúde do atleta. Muitas inovações - incluindo raquetes de tênis - já provocaram todos os tipos de contusões. Precisamos de uma política mais sofisticada para lidar com a questão do aumento do desempenho esportivo
P - Quais são os problemas éticos em relação à modificação genética no esporte e na vida moderna em geral?
R - Um dos maiores problemas tem a ver com o significado cultural da genética. A tecnologia genética sofreu uma publicidade negativa considerável e muitas pessoas pensam que será usada para criar o absurdo ou humanos grotescos, mais parecido com o monstro do Frankstein. Ao caracterisar a modificação genética no esporte como outra forma de doping, nós já prejudicamos a análise da situação. Temos que procurar avaliações mais razoáveis do uso da tecnologia genética na sociedade. Vamos depender dela cada vez mais. Isso não significa que não haja questões éticas a serem avaliadas. Vamos ter que discutir as preocupações em relação à privacidade individual, autonomia, preocupações sobre a trivialização da vida humana.
P - Atualmente há uma grande preocupação em relação ao uso das técnicas de modificação genética na agricultura. Alguns dizem essa técnica pode ser a solução para a fome no mundo, mas outros afirmam que é perigoso e não deveria ser usada. Qual a sua opinião a respeito?
R - Como a modificação genética foi caracterizada como 'brincar de Deus', criamos uma sensação de que é uma tecnologia inconsistente com a natureza. Não vejo dessa forma. Se fosse assim, poderíamos considerar várias outras técnicas de agricultura inconsistentes com a natureza também. A modificação genética em humanos é uma extensão de como usamos a medicina. Estamos tentando promover vidas mais saudáveis e felizes. Isso não tem nada a ver com o projeto de eugenia, de criar pessoas perfeitas. Deveria ser visto como uma decisão individual e legítima sobre como uma pessoa deseja melhorar a si mesma.
# Jorge Cordeiro @ 22:56
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