Zen e a arte de ser pedestre
sexta-feira, janeiro 06, 2006
Voltei a ser pedestre. A partir de agora, é bilhete único, corredor da Santo Amaro e terminal Bandeira na veia, todos os dias pro trabalho. Já venho nessa balada desde o início da semana, meu ex-carro quebrou no primeiro dia do ano (lembra? relatei o fato alguns tópicos abaixo) e desde então está na oficina. Não tem volta, vendi pro Carlinhos, motorista camarada lá do jornal que estava há tempos de olho no Gol 1.0 1996 prata, igualzinho aos carros que o JB tinha quando eu cheguei aqui em 1999. Vou sentir saudades dele...
Mas enfim... as minhas atuais condições econômicas não permitem mais tamanho luxo. Estou em fase de economia de guerra. Não adiantou nada eu ter me vestido de amarelo na virada do ano, feito um ovo. Em menos de uma semana já perdi uma grana preta. Vai ver sou geneticamente pobre, sei lá, a Ana odeia que eu fale isso. O caso é que entrei no projeto dívida zero 2006. Mas já comprei um monitor LCD 17" parcelado em 12... :)
Até que não é o fim do mundo voltar a ser pedestre. Ok, São Paulo é uma cidade gigante, ficar a pé é uma temeridade, um carro ajuda muito e tal, mas tenho usado os ônibus pra circular pra lá e pra cá e não tenho nada do que me queixar. Pelo contrário. Tia Marta deixou um sistema de qualidade - tanto nos veículos como nos corredores. Levo 20 míseros minutos pra chegar no trabalho de manhã e outros 20 pra voltar pra casa, mesmo no horário do rush (como hoje). Em ônibus novos em sua maioria, diga-se de passagem. Agora parece que o bilhete único vai valer também no metrô, se bem que é uma puta picaretagem, enquanto no ônibus pode-se pegar quantos quiser num período de duas horas pagando uma passagem só, no metrô só pode uma vez (cobrando R$ 1) e por enquanto só na linha 2. E os putos do Mr. Burns e Gerarrrrrrrrrdo ainda vão capitalizar em cima disso, de olho na eleição.
De qualquer maneira, vou aproveitar essa nova fase pra circular mais pelo centro, coisa que curto e que com carro não rola. Carro é que nem cheiração de pó, um puta vício egoísta, que a gente só larga quando acontece uma merda tipo quebra ou roubo. Esta semana mesmo já fiz uma porrada de coisas que não fazia há tempos, descobri caminhos, bares, padarias, lojas, biroscas, vendinhas, um mundo por entre becos e multidões. De quebra posso até perder uns quilinhos e diminuir esta pança ridícula.
E ainda vou aproveitar pra curtir boa parte dos MP3s que baixei nos últimos tempos. Fiz um CD com 113 músicas, Brant Bjork, Che, Hermano, Fumanchu, Living Things (o site deles é duca, vale a visita enquanto escuta Bom Bom Bom), Unida, Monster Magnet, Rocket From The Crypt e uma pá de outros sons, só pauleira.
A propósito, Josh Homme (ex-Kyuss e atual Queens of Stone Age) anunciou na página do seu projeto Desert Sessions que os seis primeiros discos das sessões no deserto serão relançados em edições limitadas (de CD e vinil) a partir de abril. Nos EUA apenas, provavelmente. O album de vinil será duplo como nos bons tempos, 1/2, 3/4, 5/6. Os 7/8 e 9/10 já saíram faz tempo. Tenho os dez em MP3, be my guest quem se interessar, jhcordeiro no slsk.
Essas sessões no deserto que o Josh promove com amigos deve ser uma puta terapia pro cara, de repente até um laboratório pro Queens of Stone Age. Eles se reúnem sempre no Rancho de la Luna, um estúdio no meio do deserto. Sem preocupações mercadológicas, levam um som descompromissado e honesto. Coisa rara por aí. De repente, numa dessas, o bom e velho Kyuss se reúne de novo. Josh e John Garcia (vocal que tá no Hermano e mandou bala um tempo no Unida) quebraram o gelo no final do ano passado, depois de oito anos falando cobras & lagartos um do outro.
Só não levo um livro pra ler no ônibus porque me dá uma puta dor de cabeça aquele balanço todo, fico enjoado, não rola. Se ainda fosse metrô, mas enfim, só o fato de ficar uma horinha refletindo sobre a vida, a cidade, as ruas, as pessoas, a música, já vale. Até que tenho arrumado tempo pra ler, acabei meu 10o. livro do ano, o Reações Psicóticas do Lester Bangs, livreto na verdade, curtinho, 128 páginas em formato de livro de bolso, mas intenso a vera, Lester era um jornalista de música como não existem mais, só temos levanta-e-corta na imprensa, nunca vi ninguém chegar pro Milton Nascimento e falar na lata, "porra, negâo, tu tá cantando mal pracaralho, pára de cheirar, porra!", ou dizer pra Gal que ela desperdiçou 80% da carreira dela com um monte de lixo. Qual o problema afinal? É gente como a gente, Lester diz isso a certa altura no livro, sempre pensei assim, vaca sagrada não é comigo, sigo essa cartilha no jornalismo, mas ô povinho corporativista. Colocamos uns bostas no olimpo pop e dá no que a gente vê todo dia na TV, bando de gente vazia, oca, que não junta lé com cré e cagam uma regra com a autoridade de um deus morto que brilha ao som de falsas trombetas. Tem na música, no esporte, no jornalismo, na política, na economia, na literatura...
O texto em que Lester Bangs descreve a entrevista de mais de duas horas que teve com Lou Reed é coisa de outro mundo. Mamado de Jack Daniels e valiums, trocam farpas, ofensas, medem forças, gostos, num duelo de titãs do pop que pinta bem o retrato da década de 1970. E nunca li um texto que definisse tão bem o Jethro Tull (no livro, fala sobre o disco Thick as a Brick). Ninguém parece conhecer mais o roquenrol do que ele, ou melhor, ninguém soube traduzir melhor as entranhas do roquenrol do que ele.
Martin Scorcese até que chega lá, mas por outros meios. Li Reações Psicóticas logo depois de ver o documentário do Bob Dylan, o No Direction Home, outra preciosidade. Dylan talvez seja uma das figuras mais enigmáticas de todos os tempos. Cantor de protesto? Oportunista? Cantor Folk? Arruaceiro? Poeta beat? Profeta? Acho que de tudo um pouco. O cara atravessou quatro décadas sem que ninguém conseguisse encaixotá-lo. Scorcese foi malandro ao não perseguir isso. O documentário abrange apenas o período entre 1961, quando Dylan decide o que quer ser, e 1966, quando dá asas à sua criação, saindo do casulo para longe da lama da mesmice. Foi nesse ano que ele lançou Blonde on Blonde, um dos discos mais importantes da história!
Scorcese deixa a corrente fluir em dois DVDs (três horas e uns quebrados, fora os excelentes extras), construindo o personagem Dylan com as lembranças, decepções, alegrias, expectativas e idealizações de muita gente que conviveu com ele, antes do sucesso e depois que foi alçado à condição de profeta divino - coisa que abominava e sempre que podia tripudiava de quem assim o via, principalmente a imprensa. Para fortalecer ainda mais a construção do personagem, Scorcese usa o contraponto do próprio Dylan comentando fatos já narrados sob sua perspectiva para dar uma tridimensionalidade a história toda, ajudando o espectador a entendê-lo um pouco mais. Um bom quebra-cabeça que exige mais de uma sessão, fácil.
O foda, no entanto, é que Dylan, que não é bobo nem nada, deixa no ar sempre, com aquele olhar de quem sabe algo que ninguém mais sabe, que tem muito mais na manga e não revela nem a pau. Quem sabe num próximo documentário?
Este tópico ficou enorme, bem ao estilo das letras quilométricas do Dylan... hehehehh, ah, e dizem que todo mundo tem uma música preferida de Bob Dylan. Pois a minha é:
Tombstone Blues (do disco Highway 61 Revisited, de 1965)
The sweet pretty things are in bed now of course The city fathers they're trying to endorse The reincarnation of Paul Revere's horse But the town has no need to be nervous
The ghost of Belle Starr she hands down her wits To Jezebel the nun she violently knits A bald wig for Jack the Ripper who sits At the head of the chamber of commerce
Mama's in the fact'ry She ain't got no shoes Daddy's in the alley He's lookin' for the fuse I'm in the kitchen With the tombstone blues
The hysterical bride in the penny arcade Screaming she moans, "I've just been made" Then sends out for the doctor who pulls down the shade Says, "My advice is to not let the boys in"
Now the medicine man comes and he shuffles inside He walks with a swagger and he says to the bride "Stop all this weeping, swallow your pride You will not die, it's not poison"
Mama's in the fact'ry She ain't got no shoes Daddy's in the alley He's lookin' for the fuse I'm in the kitchen With the tombstone blues
Well, John the Baptist after torturing a thief Looks up at his hero the Commander-in-Chief Saying, "Tell me great hero, but please make it brief Is there a hole for me to get sick in?"
The Commander-in-Chief answers him while chasing a fly Saying, "Death to all those who would whimper and cry" And dropping a bar bell he points to the sky Saving, "The sun's not yellow it's chicken"
Mama's in the fact'ry She ain't got no shoes Daddy's in the alley He's lookin' for the fuse I'm in the kitchen With the tombstone blues
The king of the Philistines his soldiers to save Puts jawbones on their tombstones and flatters their graves Puts the pied pipers in prison and fattens the slaves Then sends them out to the jungle
Gypsy Davey with a blowtorch he burns out their camps With his faithful slave Pedro behind him he tramps With a fantastic collection of stamps To win friends and influence his uncle
Mama's in the fact'ry She ain't got no shoes Daddy's in the alley He's lookin' for the fuse I'm in the kitchen With the tombstone blues
The geometry of innocent flesh on the bone Causes Galileo's math book to get thrown At Delilah who sits worthlessly alone But the tears on her cheeks are from laughter
Now I wish I could give Brother Bill his great thrill I would set him in chains at the top of the hill Then send out for some pillars and Cecil B. DeMille He could die happily ever after
Mama's in the fact'ry She ain't got no shoes Daddy's in the alley He's lookin' for the fuse I'm in the kitchen With the tombstone blues
Where Ma Raney and Beethoven once unwrapped their bed roll Tuba players now rehearse around the flagpole And the National Bank at a profit sells road maps for the soul To the old folks home and the college
Now I wish I could write you a melody so plain That could hold you dear lady from going insane That could ease you and cool you and cease the pain Of your useless and pointless knowledge
Mama's in the fact'ry She ain't got no shoes Daddy's in the alley He's lookin' for the fuse I'm in the kitchen With the tombstone blues
# Jorge Cordeiro @ 19:36
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