Stones? U2? Hum... não, obrigado
sexta-feira, fevereiro 17, 2006
Outro dia me perguntaram se eu não estava empolgado com a vinda dos Rolling Stones e do U2 ao Brasil. Respondi que nem um pouco, não me interessa em nada. Curto roquenrol, sou fã dos Stones e fui nos dois shows anteriores (em 95 no Maracanã e em 98, na Praça da Apoteose, ambos no Rio), mas esse na praia de Copacabana tá com a maior cara de mico total. Sem chance.
Pra começo de conversa, os Stones são um mero pastiche do que foram tempos atrás. Deveriam ter parado depois de Tatoo You, em 1981. De lá pra cá, não produziram nada de interessante, opa, tudo bem, tem o Stripped, de 1995, que incluia apresentações ao vivo em pequenas casas de show, nada desses mega shows de estádio (ou praia) em que vc passa mais tempo olhando pro telão ou procurando alguém conhecido ao redor do que para o palco. Não tenho mais saco pra isso. Aliás, acho que nunca tive. Fui ao maraca em 95 porque era a chance de vê-los ao vivo pela primeira vez. Lembro que praguejei muito pelo fato de ser num estádio - e olha que consegui ficar relativamente perto do palco. Nada que Jumping Jack Flash, Parachute Woman ou Tumbling Dice não me fizessem esquecer logo. Pulei pra caramba, quase quebrei o pé num dos buracos q surgiram ao longo do show no imenso tablado que protegia o gramado - era o pessoal arrancando tábuas pra poder dar uma boa mijada, já que os banheiros ficavam longe pacas, eram imundos e as filas, quilométricas -, e fui um dos que ovacionaram Charlie Watts, quase levando às lágrimas o contido batera.
Meu irmão protagonizou à época duas cenas divertidíssimas. Ele organizou uma excursão de Brasília pro Rio pra trazer um pessoal pra ver o show. O ônibus, velho toda vida, parece que quebrou umas três vezes na estrada e o motorista não sabia rodar na cidade maravilhosa. Estava eu no aniversário da minha sobrinha em casa à tarde e me liga o Beto: "Pô, já tô no Rio, mas perdido. Como faço pra chegar no Maracanã, Jorge?". "Vc tá onde?" "Tô na Lagoa..." "Lagoa?!? Como vcs foram parar aí??" Eles passaram pelo Maracanã e nem se deram conta!! E foi um custo pra ensinar o motora a chegar no maraca. Na volta, mais perrengue, o ônibus quebrou de vez, na praia de Ipanema. Ficaram quase o dia inteiro, de ressaca, sob um sol de lascar, esperando a empresa mandar outro veículo. E caíram no mar de cueca, calcinha e sutiã, maior farra, os candangos invadiram a praia! Fui lá dar uma força, até fiquei com pena. Batizei a empreitada toda de perrengue tour. :)
Encontrei meu irmão e sua turma na frente do estádio já no finalzinho do show da Rita Lee (agora atacam de Titãs... a falta de criatividade é impressionante, são sempre os mesmos, Titãs, Paralamas, Barão, Rita Lee... alugaram nosso gosto, bem diz Zé Rodrix!) e achei o Beto forte pacas. Estava grandão, com uma jaqueta de couro, parecia um daqueles leões-de-chácara de boate... "Caramba, Beto, vc tá enorme, heim?" E ele, rindo, abriu a jaqueta e me mostrou a camiseta que tinha bolado, da boca com a língua dos Stones aplicada sobre a bandeira brasileira. "Legal, vc quem fez?" "Sim, quer comprar uma?" "Quero, quanto?" Ele tira a camisa e, embaixo, vejo outra. O cara tinha vestido umas 10 camisas para poder entrar com elas e faturar um troco lá dentro! Se bem me lembro, vendeu todas (foi isso mesmo, Beto?). O pessoal olhava, gostava, perguntava onde tinha arrumado e ele tirava a camisa e vendia...
Em 98, teve um puta plus a mais, Bob Dylan abrindo a noite, esporrante, o velhinho mandou ver num set enxuto, roquenrol total. Muita gente reclamou porque as músicas ficaram irreconhecíveis, mas porra, música é isso aí, mutação constante, pedras que não rolam criam limo, e de bobo, dylan não tem nada. Além desse aperitivo ducaralho, a produção dessa segunda apresentação dos Stones teve a grande sacada de colocar um mini-palco no meio da galera pra que Jagger, Keith, Wyman, Wood e Watts pudessem reviver os bons tempos dos cafofos nos quais se apresentaram durante anos antes do estrelato. E mandaram praticamente o mesmo repertório do Stripped. Eu nem tinha reparado que estava do lado desse palco menor até o momento em que eles desapareceram do palco principal e surgiram assim, do nada, do meu lado esquerdo, pertinho pertinho... putz, inesquecível, Stones voltando às origens ali.
Agora, nesse show da praia, não vejo o que eles podem acrescentar. O som é manjadíssimo, as músicas novas medíocres e a distância do palco vai ser, ao que parece, ainda maior do que é num estádio, graças à área VIP que insistem em colocar em eventos ao ar livre e gratuitos. Porra, ser VIP nesse tipo de show é o cúmulo do esnobismo. A galera da geral tinha que dar um banho de areia nesses putos... VIP que é VIP vai assistir aos Stones em Paris, Londres, Nova York, na casa do Mick Jagger, sei lá...
Sim, eu sei, tem muita gente que não viu os dois shows anteriores, e vai se esbaldar, tenho certeza. Eu me esbaldaria, encontraria amigos das antigas, faria novos, enfim... Mas não há como esconder: o show, em si, é fraaaaco, mais do mesmo. Muitos no entanto mentirão pra si mesmos, dirão que foi impecável e tal, incapazes que são de admitir a real, hipnotizados que estão pela maçaroca de publicidade que receberam ao longo das últimas semanas. Como fomos também em 95 e 98, mas havia atenuantes (ineditismo, bob dylan, mini-palco).
Caíamos na real. Os Stones não são exímios instrumentistas e nada produziram de relevante nos últimos 20 anos. Os melhores músicos da banda se mandaram há tempos - Brian Jones (r.i.p.), Mick Taylor, Bill Wymann (que está em turnê na Europa com seu Rhythm Kings, esse bem que poderia vir pro Brasil). Watts é simples e eficiente, e gente boa pacas. Keith ganhou experiência e se aprimorou, é um bom criador de riffs e tal, nada muito além disso, e que faz uma dobradinha azeitada com Ron Wood, outro bom guitarrista, mas uma pálida sombra do que foi na época no The Faces que tinha ainda Rod Stewart e Ronnie Lane. Foi quando foi convidado para os Stones substituindo justamente Mick Taylor. E Jagger, bem Jagger segura a onda pulando que nem um macaco (talvez daí a decoração amazônica do palco, putz, mais cafona impossível...), sem esconder que é um senhor de 60 anos e como tal é totalmente dependente dos efeitos da mesa de som. Enfim, se for pra ser totalmente sincero, esse show tem mais apelo pela badalação social e oba-oba típico dos eventos cariocas do que por ser um bom show de roquenrol. O resto é marketing de quem quer vender jornal e ter um bom ibope na noite de sábado.
E o U2... bom, nunca fui muito fã deles. Tô cagando e andando solenemente.
# Jorge Cordeiro @ 03:06
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