Pânico em SP
terça-feira, maio 16, 2006
O pessoal lá do escritório de comunicação foi liberado hoje por volta das 4 da tarde, tensão total, lojas da Teodoro Sampaio e da Pedroso de Morais estavam fechando as portas, havia a informação de que um PM havia sido assassinado ali próximo (não confirmei isso), todos com medo do que poderia acontecer quando a noite chegasse. É, estou há sete anos em SP e nunca vi algo parecido - um toque de recolher informal, as pessoas foram espontaneamente se dando conta do risco que corriam ficando na rua e rumaram para suas casas. Nem no Rio vi coisa do tipo. "É que até os bandidos paulistas são mais organizados do que os cariocas", me falou um paulistano da gema... pois é, mesmo não sendo o melhor momento para comparações idiotas, o que ele falou pode até fazer sentido.
Nesse momento de extrema confusão, com informações desencontradas e ânimos exaltados, não é difícil prever o que vai acontecer nos próximos dias. O sentimento de vingança por parte da polícia paulista está aguçado e ela já começou a agir como sabe: matando. Investigação, se há, fica em segundo plano, o negócio agora é aplacar a sede por sangue da sociedade. Não evoluímos muito desde o código de Hamurabi (aquele do olho por olho, dente por dente) e essa bomba relógio da superlotação dos presídios e do sistema falido de punição que temos hoje continuará ativa depois que a poeira baixar. Alguns cadáveres jogarão o problema para debaixo do tapete social até que exploda novamente. E assim sucessivamente.
É sintomático que ninguém, no meio dessa balbúrdia toda, toque nos Xs da questão, que são a política equivocada anti-drogas, a excessiva militarização da polícia e a falência do modelo prisional vigente. Pelo contrário, enfrentarão o problema usando mais força. Mais sangue. Mais mortes. Mais vingança. Mais problemas.
A proibição das drogas só beneficia o crime e coloca a juventude em risco, a militarização da polícia a afasta da população por sua inerente hierarquia autoritária e encher prisões não recupera ninguém e não reduz o crime.
Enquanto não discutirem a valer a descriminalização das drogas num primeiro momento - e sua legalização mais a frente -, o fim das polícias militares e a intensificação da instituição de penas alternativas para crimes menores, o que vimos esta semana em São Paulo será cada vez mais comum.
# Jorge Cordeiro @ 00:05
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